Dia de África: Reflexão sobre energia, inclusão e um futuro sólido em África
Paul Samasumo – Cidade do Vaticano
A conferência sobre o Dia de África ofereceu mais do que apenas um espaço de reflexão sobre África e as coisas africanas. Serviu como uma plataforma concreta para destacar o que África já representa hoje no panorama global: um continente vibrante, rico em recursos naturais, capital humano e com os seus jovens ansiosos por moldar um continente dinâmico que é muitas vezes mal compreendido.
Um público numeroso e predominantemente jovem acolheu o painel de oradores e especialistas de diversos setores — incluindo a economia, o ambiente, a cooperação e a regulamentação energética — para uma ampla discussão sobre um dos temas mais urgentes e estratégicos da atualidade: o papel da África na transição energética global e o contributo vital de uma nova geração na construção de um futuro sustentável no continente.
O Dia de África e os desafios energéticos
Os trabalhos na Universidade da Santa Croce foram abertos por um jovem togolês radicado em Roma, o Sr. Isaac Kodjo Atchikiti, especialista em finanças climáticas na Escola de Finanças e Gestão de Frankfurt e doutorando em economia na Universidade Sapienza de Roma.
Atchikiti disse que o continente precisa de criar uma África próspera, impulsionada e ancorada na participação inclusiva. “A inclusão dos jovens, infelizmente, é por vezes utilizada apenas como slogan”, observou. E acrescentou: “Criar uma África sustentável requer economias transparentes e estáveis. Estas não devem ser apenas estratégias, mas sim alicerces fundamentais para a construção de um futuro onde possamos celebrar sucessos tangíveis para o povo africano.”
Atchikiti salientou igualmente a importância de integrar a Agenda de Desenvolvimento de Oslo como um modo possível. Isto porque defende o desenvolvimento inclusivo e sustentável através de consultas e parcerias entre múltiplas partes interessadas.
Planos de serviços energéticos elaborados em salas de reuniões
Por sua vez Musamamba Mubanga, uma jovem cidadã zambiana que trabalha para a Caritas Internationalis que também vive em Roma, ofereceu um testemunho convincente sobre as profundas ligações entre energia, justiça climática, direitos humanos e segurança alimentar. “A questão da exclusão dos serviços energéticos essenciais continua a ser um dos nossos desafios mais urgentes”, afirmou. “Os planos energéticos em África são muitas vezes concebidos em salas de reuniões e em capitais distantes das comunidades afectadas.” Ela enfatizou que a energia não é apenas uma questão de diálogo político para muitos africanos, mas sim uma luta diária pela sobrevivência.
Mubanga observou que ainda existem situações em alguns países africanos em que 80% das pessoas têm acesso limitado à electricidade. Muitas famílias, especialmente na África Subsariana, dependem fortemente do carvão para cozinhar, uma prática que contribui para a desflorestação, uma vez que implica o abate de um grande número de árvores. Se queremos que haja mudanças significativas na prestação de serviços energéticos, as opiniões das pessoas comuns e as suas experiências vividas devem ser ouvidas.
Água e energia: Pilares para o desenvolvimento
Abordando as perspetivas regulatórias, o italiano Fabio Tambone, Diretor de Regulação da ARER (a Autoridade Reguladora de Energia, Redes e Ambiente), salientou que “a água e a energia são os dois pilares sobre os quais o desenvolvimento sustentável da África deve assentar”. Deu nota que África possui enormes recursos, apresentando oportunidades significativas e desafios complexos. “É essencial desenvolver um sistema distribuído de geração de energia”, aconselhou. “Sem adotar esta abordagem, ainda estaremos a lutar com problemas não resolvidos daqui a anos”, disse.
Isabela Stoll, Responsável pelas Relações Internacionais na empresa italiana GSE (Gestora de Serviços Energéticos), forneceu uma perspetiva operacional sobre o envolvimento italiano e destacou o potencial de cooperação energética entre a Itália e os países africanos.
Outra painelista, Angela Cestari, executiva do Grupo Italiano Cestari — uma organização activa no sector energético em vários países africanos — terminou o debate com exemplos concretos de uma empresa que optou por investir de forma ética e com uma visão de longo prazo em África.
Harambee!
O evento sobre o Dia de África na Universidade Pontifícia de Santa Croce foi inspirado no relatório “A Revolução Silenciosa”da Harambee Africa International, que explora o papel da África na transição energética global.
A Harambee International procura promover o entendimento mútuo entre o Ocidente e a África. O termo "Harambee" vem de uma palavra KiSwahili que significa "vamos puxar, vamos trabalhar juntos" ou "vamos unir-nos". Ela encarna o espírito de autoajuda comunitária e de esforço coletivo, profundamente enraizado na cultura e nas tradições africanas.
O conceito foi popularizado por Jomo Kenyatta, o primeiro presidente do Quénia. Harambe continua a ser uma força motriz fundamental por detrás do desenvolvimento e da participação liderados pela comunidade no Quénia.
Dia de África
O Dia de África, anteriormente conhecido como Dia da Liberdade Africana e depois Dia da Libertação Africana, tem a sua origem na resistência colectiva africana ao colonialismo e à exploração económica. No continente e para quem se encontra na diáspora, o Dia de África é marcado como um momento para celebrar e destacar a diversidade de culturas, vestuário, comida e tradições do povo africano.
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